quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Eu e meu amigo morto

Escrevo do cemitério central aqui de Ponta Grossa, sei que passear em um cemitério não é algo muito saudável, mas me deu vontade. Fazia tempo que não via como estava o Tumulo dos meus avos e acho legal andar por aqui, é tudo tão quieto.
Estou aqui, neste frio, lendo o epitáfio dos meus avós. Para completar a cena estou com um livro do Nietsche, Obras Completas, coleção Os pensadores. Estou com calça jeans, que por sinal estava com muitas saudades de usar. Assim como roupa preta, cachecol e tênis. Peso desculpa a Família Rohnelt por estar sentado no tumulo da Zizi. Foi mal, mas era o único com sombra.
Não sei o que escrever, a cena na qual eu me encontro já é bem hilária. Bom, vamos lá. Não vejo nenhum sentido em túmulos nem em cemitérios, acho que isso só serve para conservar uma ilusão. As coisas morrem, mas quem fica não quer perder a dependência psicológica então cria estas coisas. Mas não estou a fim de escrever sobre a morte e sobre as nossas dependências psicológicas.
Pois é, estou aqui, acho que vou embora, tenho que extrair meu siso e acho que vim parar aqui só para enrolar, estou com receio que seja ainda hoje a cirurgia. Mas antes deixe-lhes contar uma coisas legal. Quando meu avô morreu foi a primeira vez que tive um contato próximo com a morte, muito estranho, e só a partir dai que cemitérios passaram a fazer parte do meu roteiro e mais que isso, ter algum significado.  Dês de então, quando vinha ao cemitério, eu e meus pais, eu sempre acendia uma vela para meu avô. Atrás do tumulo da família tinha outro bem baixinho, sem foto, direto no concreto, sem pintura, sem acabamento, parecia ser muito antigo e já estar assim por um bom tempo, então sempre eu acendia uma vela neste tumulo. Este tipo de atitude é muito característica minha, não que eu seja muito bom, mas é que tenho a terrível mania de querer aparecer, mostrando aos outros, através de minhas atitudes, o quanto são egoístas. Sem perceber que ao fazer isso eu provo que sou ainda pior.
Mas o legal é que agora, depois de 4 anos que não vinha aqui, pude ver o tumulo do desconhecido reformado, esta mais alto e tem até piso revestindo. E eu de tão egoísta que sou fiquei muito feliz pelo morto.
Tchau, vou cuidar das minhas coisas, até a próxima. 

Filipe Zander Silva              Ponta Grossa-PR   27/09/2011

3 comentários:

  1. E eu não estava com o meu computador no cemitério ehehehe. Escrevi na minha agenda e depois digitalizei, só para esclarecer eheh.

    ResponderExcluir
  2. Eu percebo um sotaque, um toque de coincidencias no que vc escreve.
    Ja liguei para a familia Rohnelt e denunciei vc. Ta tudo certo e no mais tardar das 18 hrs, os mortos se levantam. Entao meu camarada, prepare a cruz, terço ;
    Uma dica: Escreva uma estoria de terror filipe e coloque o Nietsche no papel de alguem
    Gostei do design do blog

    ResponderExcluir
  3. Engraçado esse post veio no "acaso" e acabou casando com a situação do dia de hoje. No intervalo de tempo em que terminou a oficina ate vc surgir do alem na nossa frente de volta, um dos passeios foi o cemiterio, e aconteceu um episodio muito interessante por la, mas prefiro comentar outra hora contigo. Gosto dessa sua escrita tão envolvente e do modo como vc se expõe sem se expor. Beijo.

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...