Olá, vou lhes relatar algo que para mim foi muito bonito e mostrou como o ser humano leva em si algo que lhe impulsiona a ajudar aqueles que necessitam. E eu cruzei com uma pessoa em minha caminhada que expressava este valor de uma forma única e tremendamente desinteressada.
Tudo começou com umas de minhas viagens que fiz a base do dedo-metrô, ou seja, pedindo carona na beira da estrada. Esta viagem ocorreu no mês de abril deste ano de 2011, o motivo foi visitar minha ex-namorada que mora em Natal. Sai de São Luís em algum dia deste mês, não lembro qual. Pedi muitas caronas, passei algumas boas barras, que ainda irei relatar aqui, mas enfim a historia hoje é outra. A viagem estava correndo bem tinha saído de Teresina, aonde tinha posado e no mesmo dia já estava na fronteira com o Ceara, e na fronteira mesmo que parei, mas especificamente em São João da Fronteira (se tivesse uma imagem de São João eu viraria de ponta cabeça) .
Cheguei ai com um ônibus que me deu uma carona, era do tipo escolar e ele só iria até ali. Logo que desci eu vi que tinha algo de errado, todos os caminhões paravam ali, mas não via nenhum sair. Era um primeiro posto de fiscalização, pois depois vinha a Serra Grande no Ceara, mas antes da serra vinha outro posto. E estava preso ali, demorava uma era para os caminhões saírem do primeiro posto e ninguém dava carona, primeiro porque eles sabiam que iriam parar no próximo posto, e estes postos não são brincadeira, tem caminhão que fica parado mais de semanas, pois o Patrão que contratou tem que ter pago as taxas, e tem uns que não pagam, então o cara fica preso lá. Sobre o segundo posto falarei mais para frente, afinal eu não fiquei em São João da fronteira para sempre né?!. Bom estava eu lá na beira da estrada com minha placa, a cidade um ovo, nada, nada, nada. As únicas coisas que tinham era o posto de fiscalização, um bar, um posto de gasolina, uns caras trabalhando na construção de uma igreja e muita gente curiosa que passava de bicicleta, sem entender bulhufas. Até aquele momento eu não sabia por que ninguém me dava carona, para completar começa a chover muito forte e eu não podia ficar na chuva, primeiro que ninguém me daria carona molhado e apesar de ter proteção, a minha mochila não é nenhuma arca de Noé. Então pensei vou ao posto de fiscalização e tentar puxar papo, mas caminhoneiro é muito cabreiro, pois muitos são roubados e tal. Acabei parecendo um bobo e não resolvi nada, então resolvi voltar para a beira da rodovia, a chuva estava fraca e algum motorista poderia se sensibilizar. Percebi que as mulheres do bar começaram a olhar para mim e conversar, bom pensei, pode ser minha chance. Nãooooo eu não pensei em nada malicioso, apenas que elas por ser mulher poderia se sensibilizar e me ajudar.
Dito e feito não deram mais de 2 horas e uma mulher veio querendo saber minha história, o que eu estava fazendo ali e tal. Não falei a verdade, acho meio estranho se eu falasse que estava indo ver minha namorada. Fiz a besteira de dizer que estava indo para fortaleza em um congresso, à desculpa era boa, mas eu não sabia que isso se tornaria um problema. Por fim ela fez outras perguntas e disse que tinha um amigo que me levava, mas teria que mostrar para ele o que eu tinha na mochila. Nenhum problema, peguei, fui com ela até o bar e coloquei minha mala na mesa, me apresentei, ele estava cabreiro, então comecei a tirar as coisas, tirei uns livros, comecei a tirar umas roupas, e mostrei o que eu tinha de mais violento, um alicate. O cara falou para eu parar, disse que já estava de bom tamanho, falou para eu guardar minhas coisas, perguntou se eu queria café, eu aceitei e ele disse que sairíamos logo. Fiquei perto do caminhão esperando, de repente ele chegou, estava fumando, me ofereceu um cigarro e eu disse que tinha parado. Entramos no caminhão e ele se apresentou o nome dele era Guaraná, nome não né, o apelido dele. Falei meu nome e disse que estava indo para um congresso se soubesse que ficaríamos tanto tempo junto nunca teria mentido, mas enfim naquele momento entendi que era necessário.
O caminhão dele era novo e dos bons, todo moderno parecia cabine de avião, show de bola, entre os dois bancos tinha uma cuia de chimarrão, vi ali uma porta para uma conversa ( a pior coisa de pedir carona é ter que conversar, a segunda ter que escutar as musicas do gosto do motorista). Perguntei se ele tomava chimarrão e ele disse que tinha trabalhado um tempo com um pessoal do sul e tinha adquirido o abito que ajudava a manter acordado, e me contou que o segundo motivo é que ele dirigia de noite a base de Arrebite, remédio que os caminhoneiros tomam para ficar acordado, e se a policia falasse algo ele dizia que era o chimarrão. Após isso ele me contou que ficou ressabiado em dar a carona porque isso costuma dar muitos problemas, tinha um amigo dele que tinha acabado de ser preso porque deu carona a um homem que carregava uma TV e a policia parou o caminhão e a TV estava cheia de droga. Falei que eu não estava com drogas. Após isso minha memoria da uma falhada, mas acho que ele me falou sobre o trecho, disse que ali era complicado e me explicou aquilo que eu já falei, dos dois postos. Ele disse que provavelmente nos dormiríamos no segundo posto, beleza, tudo era melhor que São João da Fronteira. Chegamos no posto, tinham muitos caminhões parados, ele desceu, disse que iria ver se o patrão tinha depositado a grana, eu desci do caminhão também, para que ele ficasse mais de boas, ele disse para eu deixar a mala lá dentro. Enquanto ele foi ver a questão da taxa eu fiquei embaixo da marquise, aonde tinham outros caminhoneiros conversando. Ele demorou um bom tempo e eu fiquei só escutando a conversa dos caras, é muito legal, ele conhecem tudo de rodovia, eles comentam, “sabe aquele posto tal lá na Anhanguera “e o outro sim “parei lá uma vez ......” . Fiquei apenas escutando mas não me envolvi na conversa.
Depois de um tempo o Guaraná veio e disse que agente teria que esperar algumas horas, que o cara não tinha depositado. Estava já anoitecendo, eu fui ao banheiro e ele disse que iria preparar um café. Não sei por que, mas sempre fico preocupado que fujam com as minhas coisas, então fui rapidão lá no banheiro e voltei para o caminhão. Chegando lá ele estava ao lado, mexendo no baú, que é aonde eles guardam utensílios, comidas e tudo mais, como o caminhão dele era do tipo baú frigorifico, tinha até geladeirinha. Então ele preparou o café, ajudei lavando as coisas que ele usava, comemos pão com mortadela e bolacha, eu estava com bastante fome, mas não exagerei, por bom senso. Conversamos, ele me contou que era casado e tinha uma filha, e que era complicado ficar longe e que ele já tinha quase matado um sujeito, contei que tinha uma irmã mas que nunca tinha matado nenhum namorado dela hahaha. Conversamos sobre outras coisas, ele perguntou se eu não tinha medo, então contei sobre outras viagens e tal, ele contou que tinha um esquemão em transportar carne, não entendi, mas sei que dava para ganhar uma boa grana em cima. Depois de arrumarmos as coisas voltamos para o posto porque ele iria ver se já tinham liberado, fui para lá, e voltei a escutar a conversa do caras, depois que ele saiu e também entrou na conversa e eu continuei escutando. Uma coisa legal que eles falaram é da rixa entre Policia e caminhoneiro, contaram umas historias de Policiais que foram mortos e todos eles diziam “bem feito esse merecia eu conhecia o malandro”, coisas deste tipo. Depois de umas 6 horas ali nos fomos liberados, agora iriamos enfrentar uma serra superperigosa, mas que tem uma vista linda, que é a serra grande, já no Ceara. Descemos a serra, ele desceu muito de vagar, e começou a conversar com uma tal de Índia pelo radio. Umas das coisas mais legais são as conversas deles pelo radio. Eu nem contei, mas o Guaraná tinha um gosto musical até legal, escutava estas canções com historias e rodeio, bem legal.
Pelo radio ele continuou a conversar com a Índia, e disse que pararia lá, me contou que ela cuidava de um bar ao pé da serra e que tinha um radio para se comunicar com os caminhoneiros. Eu pensei, aonde fui parar, pense um bar na beira da estrada em que a mulher se chama Índia e conversava com os caminhoneiros. Mas não tinha escolha, chegamos lá, era um bar mesmo e as mulheres que estava lá não eram santas, mas acho que também não eram prostitutas, não sei o que elas eram, mas não ocorreu nada de mais. Chegamos lá, cumprimentamos o pessoal que estava por ali e ficamos conversando, tomamos umas cervejas e eu não entendi quase nada que eles falavam, era muitas palavras regionais e falavam meio enrolado, mas foi divertido, eles eram bem alegres. No final nos despedimos e fomos para o caminhão, tinha um beliche, eu fiquei na parte de cima era bem confortável e eu estava com meu saco de dormir. Deitei, mas demorei a apagar, quando acordei no outro dia o Guaraná estava ligando o motor e eu voltei a dormir haha.
Durante a viagem conversamos bastante, agora não lembro sobre o que, mas era legal. Ele disse que iria passar em Sobral descarregar umas carnes e iria demorar um pouco e se eu quisesse ele poderia me deixar na rodovia. Eu achei melhor não arriscar, falei que esperava, Chegamos em Sobral, paramos no centro, já era umas 10 da manhã, fui comprar pão e ele fez o café, foi legal porque o pessoal ficava olhando agente com cadeira de praia ao lado do caminhão comendo, as crianças achavam um barato.
Sobral é a cidade do Didi, é muito bonitinha, bem organizada, limpa e tudo mais. Sai dar uma volta, esperava encontra algum parente do Didi ahha . Depois voltei para o caminhão e ele disse que o pessoal tinha ligado e poderíamos ir descarregar. Fomos até o açougue e ficamos sentados olhando os caras do frigorifico descarregarem, era muitas, e a maioria pedaços enormes, superpesadas e os caras carregavam nas costas e suavam um com o outro. Ao final o Guaraná pediu um pedaço da carne, os caras deram e nós seguimos. Chegamos a um posto e fizemos almoço e tomamos banho, o almoço foi muito gostoso, ele cozinhava muito bem.
Seguimos em direção à fortaleza (estou pulando detalhes para não cansar de mais), esta foi o pedaço mais longo da viagem agente conversou até dizer chega, ai veio aquele silêncio que perdurou um bom tempo. Passamos pela cidade do Tiririca e eu fiz uma piada, “cara agora só está faltando agente passar pela cidade do Bozo” Seguimos até Fortaleza, ele estava muito preocupado, e eu devido a minha mentira tinha que ficar escolhendo muito bem as palavras. Ele queria saber se eu tinha para onde ir, e eu disse que tinha a casa de um amigo ao lado da Universidade, que chegando lá eu ligava para ele e pegava um Ônibus, ele disse que ia entrar em contato com o cunhado dele e me passar o endereço, qualquer coisa eu ia para lá. Falou para eu ter muito cuidado, pois Fortaleza é muito violenta e tal. Ates de chegarmos em fortaleza ele perguntou se eu tinha Orkut e eu disse que sim, peguei o MSN dele e telefone, anotei em um papel. Ele disse “quando estiver em segurança me liga”, eu disse que ligaria, guardei o pedaço de papel no bolço. Enfim chegamos na entrada de Fortaleza, ele estava quase me levando no endereço, mas disse que não precisava, eu me virava, tive que insistir para que ele desencasquetasse. Paramos em um posto, fiz de conta que liguei para meu amigo (sei que é meio ruim ter feito isso, mas naquele pé da história eu não iria mudar toda a história, preferi fazer estas coisas). Falei que estava tudo Ok, ele perguntou se eu não queria Jantar antes e eu disse que estava tranquilo, estava me sentindo mal por mentir. Fomos até o ponto, passou um ônibus e perguntei ao motorista se aquele ônibus ia para algum lugar de integração ele disse que sim. Entrei no ônibus e quando ele partiu perguntei como ia para a rodoviária, não tinha como pegar carona de noite e a rodoviária seria o melhor hotel. O pessoal foi muito gente fina, me deu todo o canal e o motorista até desceu do ônibus para mostrar qual eu pegava.
Logo que cheguei na Rodo eu fui pegar o papel para ligar para o Guarana, mas cadê o papel, não sei se caiu do meu bolço se eu deixei no caminhão, não sei. O único possível contato seria o Orkut, mas nunca achei ele.
Bom é isso, o Guaraná tinha seus defeitos, mas as suas qualidades foram o que valeram quando nos encontramos pelos tortuosos caminhos da vida. Se alguém conhecer ele diz que o Filipe mandou um abraço.
A partir da chegada na Rodo já é outra historia.
Sei que não ocorreu nada de mais, mas quando tu esta pedindo carona ao léu, as poucas coisas se tonam grande coisas, como um carro que para, um almoço que você ganha, um lugar que você dorme. Adoro pedir carona e sinto comichão nos pés para fazer a próxima aventura.
Espero que tenham gostado, se alguém leu heheh.
A e desculpa aos devotos pela brincadeirinha com o santo, isso se chama liberdade blogueira, assim como liberdade poética. =)
Filipe Zander Silva
21/09/2011 Natal-RN
hahaahah, muito interessante a historia. mas afinal de contas, vc foi ver a ex namorada ou foi a um congresso? Beijo
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