segunda-feira, 14 de maio de 2012

"Dias daqueles"

              
                  Tem os “dias daqueles” em que o tempo presente se tornou o inferno, no qual você deseja voltar de onde você veio, e se encaixar novamente de forma integral e harmônica ao ventre de sua mãe, mas isso é impossível. Então você se satisfaz nas recordações da infância. Acordar tarde e tomar café na cama, subir na acácia imensa do quintal, ser ladrão e ganhar da sua irmã e de seu primo, ter medo do papai Noel, jogar futebol sozinho, não precisar fazer nada sério, paqueira a menina da carteira da frente, brincar de soldadinho, ajudar sua irmã a montar a casa da Barbie, ver os filhotinhos nascerem, acampar com toda a família, falar de beijo, brincar de verdade e desafio. Hoje sinto não se r tão feliz, não sei se isso quer dizer que a “sociedade me corrompeu”, mas falta a simplicidade e sobraram coisas complexas. Não se tem mais tempo de fazer por prazer, agente agora se afoga nas tarefas que são comidas pelo tempo, e a voz da felicidade vai ficando longe. Então vem essa vontade de fugir, subir eternamente nesta arvore de acácia e talvez chegar até outra terra. Outro mundo sem precisar nunca mais descer, não ter horário, não ter dia, viver assim como criança, ter uma mãe que faça tudo e um pai que compre o básico, ser eternamente filho. Vagabundagem? Não, o problema esta na ideologia, precisamos hoje morrer de trabalhar para sermos considerados respeitáveis e dignos, porque não fazer da produção uma eterna brincadeira, irresponsável e sem compromisso, é claro que após a nossa explosão demográfica isso se tornou impossível e assim estamos condenados a crescer e sentir “naqueles dias” a vontade de voltar ao ventre materno.

F.Z.S.

     

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