quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Reges Não quer Guerra


Reges Não quer Guerra
Eram quase seis da tarde e o sol brilhava seus últimos raios no horizonte, que invadiam a Avenida Sete de Setembro e banhavam o asfalto, dando uma tonalidade amarelo manga ao cenário. Havia ali algo de “Ultimo suspiro”, ultima chance. Era sexta feira 30 de outubro e no andar das pessoas havia algo de ânsia própria de uma força que se acabava, mas que fazia dos passos algo eufórico, como quem corre em direção da morte, ao descanso. Era final de semana, fim de mês, fim de ano e inconscientemente a vontade de que fosse o fim de tudo, mal sabendo a inconsciência que depois de alguns dias seria começo e que não seria possível fugir a tragédia de existir.
Reges, nosso personagem, não acompanhava esta tragédia, isolado do cenário e a parte da musica das avenidas ele andava a passos lentos, como quem já não espera nada. Levava em sua mão direita uma maleta preta, desgastada pelo tempo, da qual escapava pelo zíper estragado alguns papeis. Usava um terno marrom e uma gravata bege, descomposta e mal ajeitada no colarinho, uma figura insignificante no meio, imperceptível, quase depressiva, frente à esperança dos demais transeuntes.
Reges Cruzou a Avenida Getulio Vargas e parou na esquina, olhou para os dois lados, como quem escolhe para onde ir, em dissonância com o passo decidido dos demais. Seguiu pela bandeira dois e parou no ponto de ônibus, que já aglomerava mais de vinte e cinco pessoas, que atentas, liam a placa dos ônibus. Alguns agitavam as mãos, outros conversavam conversas vans ao certo, sem nenhuma atenção, todas muito atentas ao coletivo que iria parar.  Reges largou sua maleta ao chão, não parecia ser pesada, mas ao comparar com sua vontade de carregá-la, poderia ser que fosse. Esperou por meia hora até chegar o Vila Tibiriçá, já era noite quando subiu no ônibus, procurou pelos bolsos do paletó o dinheiro para a passagem. No desespero e aperto, típico de um ônibus, ele acaba por derrubar algumas moedas, tendo que abaixar para pegar-las, ocasionando resmungo dos que vinham atrás e benevolência dos que estavam na frente, mostrando que na paz todos sabem ser virtuosos. Por fim passou a catraca e seguiu se esfregando a homens e mulheres até atingir o final do ônibus, como quem acaba de passar por um rolo compressor.  Acaba sendo expelido para um pequeno espaço vazio. O ônibus seguiu por uma hora, nas quais Reges passou entre o sono e a vigília, perdendo muitas vezes a noção de espaço e tempo. Agora já vazio e Reges sentado em um dos bancos, pode se entregar ao sono.         
O Ônibus virava na rua cinco, já se aproximava de seu ultimo ponto, quando por um desses milagres de nossa mente Reges acorda, levanta rápido e dá um sinal que queria parar no próximo ponto.  Tinha em seu olhar algo de diferente, uma energia súbita, que brotava de alguma saudade. O ônibus para e ele desce, caminha por duas ruas transversais, agora seus passos tem algo de ânsia, suas mãos soam, como se algo de vida tivesse adentrado aquela casa vazia, seus olhos estavam vivos.  Ele tira o paletó olha o relógio, eram 20:00, ele balança a cabeça como alguém que se atrasou. Ele vive, quase corre, chega ao portão de uma casa simples, muito simples, rua de terra, alvenaria mal pintada, portão baixo e claramente improvisado, a grama não era grama, era mato que já estava em época de cortar, um cachorro magricelo vinha chorando a latir, as luzes da frente se acendem, lá dentro duas já se encontram acesas. Tudo se movimenta tudo se agita, até o sol parece querer voltar, os botões de rosa ameaçam se abrir e lá de dentro uma moça corre. Reges afogado em tanta ânsia fecha o portão de forma quase tremula, o cachorro late e quase sem tempo de se virar é agarrado pelo pescoço e as únicas palavras são cruzadas e atropeladas como quando o mundo se acaba, como suicidas que se entregam ao abismo após tanto caminhar. Como o fim de uma luta não lutada, como o fim da ânsia, como a morte, tudo se entrelaça e se une pelas palavras “saudades” e  “amor”. 

Filipe Zander Silva                   

Um comentário:

  1. Um prosador, se for pra regurgitar resumo pra mta definiçao.
    achei classico. etéreo, com pouca virilidade. brasil. joana.
    mas tb achei delicado...
    Tua estórinha parece uma sauna. uma neblina quente insuportavel. E o que dizer das duxas geladas?
    to a procura de diversao, mas fico encucado com uma coisa: sabe aquele esquema de elogiar o rosto da amiga sendo que ela é feia, ou admirar a generosidade que uma pessoa nao tem, proclamar a familia, ou olhar pra flor narciso e lembrar de um casalzinho narciso borocoxô que como na tela do caravaggio, nao consegue afogar a cabeça pra dentro da água. Lembro de uma frase do impaciente lobao: "Se afoga narciso, pelo menos isso."
    Fico preocupado e vou tentar nao transformar essa diversao numa mortandade, pois senao daqui a pouco a gente vai ficar num elogio interdependente, que puta que o pariu, nao vai servir para nada.
    Cara, estou tao alegre, que quero, seja oq for, fazer mto bem feito.
    Pra mim, nada é mais falso que uma punheta.
    Oq vc acha?
    Pelo amor de Deus, continue escrevendo?

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